Conheci, quase por acaso, uma nova ferramenta de resolução de conflitos chamada “Práticas Colaborativas”. Como acredito que NADA é por acaso, me sinto de certa forma responsável por divulgar, aos quatro cantos do mundo, do que se trata. Quem de nós não tem um familiar, um amigo/a ou conhecido/a repensando o casamento?
A técnica vem sendo discutida e aplicada por advogados especializados mas, fora do meio jurídico, pouca gente ouviu falar. No Brasil a ferramenta foi trazida e formatada recentemente, em 2011, e a primeira capacitação ocorreu em 2014. Sua prática é um bebê, apenas engatinha, mas é linda e promete crescer forte e saudável. Divulgá-la é a melhor forma de alimentá-la.
Antes que você desista do texto, explico: “Práticas colaborativas” são uma abordagem multidisciplinar, não adversarial, e extrajudicial de resolução de conflitos, aplicadas principalmente em casos de divórcio. O objetivo é permitir que o ex-casal atravesse a separação de forma civilizada, com o menor nível de stress possível, e sem brigas.
Antes que os incrédulos definitivamente desistam do texto (leiam, leiam!), eu insisto: Sim, é possível! Comprovadamente possível. E, segundo estatísticas nos EUA onde é bastante praticada, o resultado é positivo para 95% dos casais que buscam essa abordagem. Ficam de fora apenas 5% dos casos, que vão para a UTI do judiciário tradicional.
Espero ter convencido de que vale, ao menos, buscar informação sobre o assunto.
Para quem quiser mais detalhes, segue um resumo de como funciona: Ao invés do tradicional “cada um com seu advogado e ponto”, trabalha-se com uma equipe multidisciplinar que trata dos diferentes aspectos do divórcio. Advogados, claro! – um para cada parte – cuidam da parte formal (assistência jurídica e papelada). Profissionais da saúde (terapeutas, psicólogos) – também um para cada parte, e se necessário outro para os filhos – cuidam das emoções. Um financista neutro – apenas um! – ajuda a planejar a nova realidade financeira do ex-casal. Um time montado de forma a que os jogadores, ao invés de se matarem por um placar vencedor para um lado ou para outro, busquem jogar uma bela partida e, com os torcedores, saiam felizes do campo. Ok, felizes não cabe numa situação em que muitas vezes a tristeza só perde para a dor do luto, então, coloquemos assim: que saiam melhor do que entraram. Que saiam aliviados, e prontos para recomeçar uma nova vida.
Nossa cultura é a do “certo” ou “errado”, e fomos educados a crer que só ao juiz cabe julgar. É cômodo esperar que decidam por nós, mas dificilmente ficaremos felizes com a decisão. É mais eficaz fazer parte da sua construção. Dá trabalho, exige um imenso esforço conjunto, ficar frente a frente com o ex, trabalhar as emoções, deixar de buscar culpados e focar no futuro ao invés de lamentar o passado.
Lidar com os conflitos de forma não adversarial envolve uma mudança na forma de pensar. Impossível, diria a maioria, e eu também, até um tempo atrás. Mas a sociedade evolui, as cabeças mudam, o que era certo passa a ser questionado, mudam-se paradigmas e o antes impossivel vira parte do dia-a-dia. É só uma questão de cultura. Conversar, olhar com outros olhos, divulgar. E acreditar que dá para mudar.
Sou do tempo em que jogar papel de bala pela janela do carro era aceitável, fumar tinha o seu charme e levar saquinho para catar cocô de cachorro era simplesmente impensável. Espero viver o suficiente para ouvir da garotada o quanto estranho lhes parece que o divórcio, algum dia, não tão distante assim, tenha sido uma disputa decidida por um juiz em que as duas partes tinham como objetivo aniquilar a outra e quase sempre acabava em muito sofrimento, mágoas e tristeza.